Homo Tempus - F. E. Jacob Resenha de Yuri Barbosa (@yurib19)
Homo Tempus - F. E. Jacob
Título: Homo Tempus | Autor: F. E. Jacob | Editora: Sromero Publisher | Gênero: Ficção Científica | Páginas: 200 | Ano de publicação: 2019 | Nota: (*)
“Esse livro conta a história de Wallace Vidal, um jovem bibliotecário que se perdia nas fases da própria vida, mas que por acidente viaja no tempo e é aprisionado por neandertais - no futuro. Agora ele precisa fugir e entender o que causou o colapso da nossa sociedade, ao mesmo tempo em que tenta desesperadamente consertar os erros que cometeu nesse futuro que não compreende. Para isso deverá sobreviver a uma longa jornada, em que precisará da ajuda de todos que encontrar, neandertais ou Sapiens.”
Ler estreantes brasileiros é sempre um prazer. E não foi diferente, tendo nas mãos essa ficção científica do mineiro F. E. Jacob. A obra me surpreendeu pela qualidade e pelos momentos prazerosos de leitura, nos quais eu me sentia numa verdadeira “Sessão da Tarde”. Isso porque temos aqui uma aventura empolgante e emocionante, além de reflexiva. E o que é melhor: com viagem no tempo.
O Início da Aventura
Nossa aventura se inicia numa biblioteca em Estrasburgo, na França, em 2018, onde trabalha um mal humorado Wallace Vidal. Não demora muitas páginas para que o rapaz se veja vítima de uma anomalia que o lança para o futuro. Ele se vê aprisionado e forçado a trabalhar para pessoas fisicamente estranhas. Logo consegue fugir e descobre que está no ano 2095, mal reconhecendo o seu mundo.
Quase deserto, as poucas pessoas que consegue encontrar estão vivendo em miséria, subjugadas por essas pessoas estranhas que o aprisionaram na sua chegada. Então, Wallace passa a precisar tomar decisões difíceis, muitas vezes tendo vidas inocentes nas mãos.
As viagens pelas quais Wallace se aventura não o impedem de contemplar e refletir sobre as profundas transformações sofridas pela sociedade ao longo dos anos. Sendo assim, pelos olhos do protagonista, o autor nos apresenta de forma leve e didática, discussões envolvendo principalmente a inércia da sociedade atual. Ou seja, Jacob se vale de narrativas no futuro e passado para denunciar a fé cega que nós, do presente, temos na tecnologia e progresso.
Ação e Reflexão na Media Certa
F. E. Jacob teve, para mim, dois grandes acertos com essa obra. O primeiro foi escolher um protagonista jovem e contemporâneo para viver e crescer com todas as aventuras narradas no livro. O outro foi adotar uma escrita muito ágil e fluída, que resultou num livro rápido de se ler, ainda que profundo nas suas discussões. Aliás, profundidade que é marca registrada de uma boa ficção científica.
O autor consegue alternar com eficiência os trechos de maior ação com os mais calmos e descritivos. Quando de aventura frenética, as cenas de ação tiram o fôlego do leitor e deixam aquela vontade de ler mais. Nas descrições e divagações são precisas e objetivas, evitando as barrigas na narrativa. Já os diálogos, todos muito afiados e rápidos, com uma exceção ou outra onde se fez necessária uma explanação.
Engenheiro e economista, Jacob mostra, em seu romance, conhecimentos em Filosofia, Política, Paleontologia e (por que não?) Antropologia. Inclusive, acrescenta ao final do livro referências científicas que embasam alguns trechos narrados na era Paleolítica. Apenas um preciosismo do autor para ser acrescentado a uma obra que já não tinha pontas soltas.
O Elo da História
A grande cartada de Jacob foi ter incluído a misteriosa presença de homens de Neandertal no futuro da história. Essa espécia humana é o elo que une as várias partes da trama, tratada inicialmente com acuracidade científica, depois com certo romantismo e, por fim, com o respeito pela sua passagem pela história da humanidade.
Inclusive, a parte do livro que retrata a vida dos Neandertais é quase um interlúdio, dado que destoa da distopia apresentada no restante. Por outro lado, proporciona experiências e aprendizados, tanto emocionais quanto físicos, que vão acompanhar o protagonista até o fim.
Aliás, esse é outro grande mérito do autor. Os detalhes e acontecimentos ao longo da história são confusos a princípio. Confesso que achei serem até desnecessários. No entanto, felizmente o desenrolar dos fatos provou que eu estava errado. Jacob entregou ligações consistentes entre passado, presente, futuro e além.
O Arco Perfeito de Wallace
Se “Homo Tempus” me deixou confuso e desacreditado no começo, foi com enorme satisfação que cheguei ao fim. Minha vontade era ler tudo de uma vez, mas os dias ocupados me impediram de faze-lo. Mesmo assim, fiz o que pude, devorando-o em apenas cinco dias, graças à narrativa dinâmica do autor, do tipo que deixa o leitor curioso por mais.
Os livros têm a mágica capacidade de tocar cada leitor numa característica diferente. Para mim, foi o arco de desenvolvimento do protagonista que mais me marcou. Wallace começa a história em meio a milhares de livros, mas alheio a eles. Desconectado com sua realidade e com seu papel no mundo, na sociedade. As aventuras que vive promovem tantas transformações que, ao final, é um deleite observar o homem que se tornou.
Quanto aos outros personagens, a própria natureza da história não nos deixa conectar por muito tempo. Apesar de ser um ponto negativo, também me fez pensar sobre a efemeridade da vida em oposição ao tempo. Ou seja, de uma forma de outra, as vidas são passageiras, tanto as nossas quanto as que convivem conosco.
Divagações à parte, essa é uma grande aventura, que merece a atenção de mais leitores. Eu sempre digo que histórias de viagens no tempo são difíceis de escrever, mas essa passou no teste. Jacob entrega uma história redondinha, gostosa e excitante, além de um novo personagem que, apesar de não ser brasileiro, pode ser o novo herói nacional.
Aventura Eletrizante
As prateleiras de livros e os catálogos de filmes e séries na internet já estão saturados de distopias. Não é à toa, já que desde lançamentos como “Admirável Mundo Novo” e “1984”, o público se mostra aberto a consumir esse gênero.
O mérito de “Homo Tempus” está em reunir distopia com aventura, adicionando outra fascínio das pessoas, a viagem no tempo, e uma pitada de filosofia. Os ires e ires de Wallace Vidal, ouso dizer, são comparáveis com as desventuras de Marty McFly na trilogia “De Volta Para o Futuro”. Então, se você gosta de futuros distópicos, aventuras e ficção científica, esse livro é para você.
“Homo Tempus” está Disponível na Amazon em formato impresso e digital. Você também encontra no site da Editora Sromero por um valor menos salgado. E se quiser sugerir um livro para a equipe do Folheando escrever uma resenha, clique aqui.
(*) Dar notas para uma obra de arte é muito subjetivo, e uma tarefa que eu não tenho a pretensão de assumir. Esta obra foi avaliada de acordo com minha percepção, minhas experiências de vida e o estado de espírito enquanto lia. Tudo o que eu penso sobre ela está na resenha e, a meu ver, não pode ser descrita em números, que limitam a percepção da qualidade, ou falta de, da obra.
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